quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O TEXTO DISSERTATIVO

Noções Introdutórias
Quando atendemos ao pedido do professor para dissertar/argumentar, descrever ou narrar, estamos colocando em prática um conjunto de referências codificadas há muito tempo e dadas como estruturadoras do tipo de texto solicitado.
No entanto, o fato de aquelas modalidades existirem não indica que se apresentem de forma pura. Em geral, elementos descritivos, dissertativos e narrativos encontram-se misturados na trama textual. O que ocorre é a dominância de uma forma sobre outra.

Um discurso será dissertativo pelo fato de nele prevalecerem os argumentos, a exposição de idéias; isto não significa dizer, contudo, que estejam ausentes as tabelas indicativas de uma certa pesquisa, as enumerações de nomes, as caracterizações físicas de alguma pessoa, as figuras de linguagem, as imagens poéticas.

O texto dissertativo/argumentativo

As formas dissertativas estão presentes cotidianamente na vida das pessoas. São os discursos da publicidade, do jornalismo, da política, das aulas, dos conselhos dos amigos, das polêmicas para se saber qual o melhor time de futebol. Em comum entre todas estas formas está o fato de que idéias estão sendo veiculadas, pontos de vista debatidos, concepções atacadas ou defendidas. E, como se percebe, o mecanismo de comunicação que envolve os agentes discursivos tanto pode estar baseado em formas interpessoais como massivas.

Quando o governo faz uma campanha de prevenção contra a cólera ou para impedir um surto de poliomielite, está, a rigor, agindo através da linguagem. E pretende produzir efeitos de sentido.

Percebe-se que a linguagem é uma forma de ação e os textos argumentativos são a modalidade onde se exerce com maior vigor a persuasão.

Argumentação e ponto de vista

1. Como se forma o ponto de vista?
Os pontos de vista decorrem de experiências que acumulamos, leituras realizadas, informações obtidas, do desenvolvimento da capacidade de compreender e, sobretudo, “traduzir” para outras pessoas aquilo que desejamos dizer. É neste processo que iremos, progressivamente, formando e reformando a visão das coisas.

2. O que forma o ponto de vista?
Ao lermos os artigos de jornais que defendem certas teses, por exemplo, favoráveis ou não à pena de morte, ao aborto, à gratuidade do ensino superior, ao pagamento da dívida externa, estamos diante da formação de visões de mundo, pontos de vista, concepções que pretendem, em última instância, influenciar nos conceitos, idéias, opiniões das pessoas.
Em qualquer dos casos busca-se efetivar o convencimento. Ou, em termos mais precisos, objetiva-se alcançar os efeitos pragmáticos da linguagem, esta capacidade que os signos verbais possuem de influenciar pessoas, de definir ou redefinir posições, de confirmar preconceitos, de formar ou reformar atitudes.
Considere-se contudo o seguinte: a visão que temos das coisas, dos homens, do mundo é, ela também, constituída coletivamente. Ou seja, não se trata de pensar o ponto de vista como algo absolutamente individual, algo que as pessoas elaboram independentemente.
Quando falamos/escrevemos, ouvimos/lemos, realizamos atos de linguagem circunstanciados por um conjunto de valores e experiências que se qualificam ou desqualificam muito em função das relações sociais, do ambiente cultural, da situação econômica que nos circundam.

3. Por que se forma o ponto de vista?
a) decorre do fato de alguém operar a partir de um lugar social;
b) resulta de um discurso que, enunciado individualmente, está marcado por outros discursos;
c) possui implicações com a própria trajetória cultural das pessoas: leituras realizadas, convivências mantidas, informações às quais teve acesso.

Como se vê, afirmar um ponto de vista é um gesto de compromisso. Significa revelar uma posição diante de algum problema.

A formação do ponto de vista passa por um processo relativamente complexo. Não basta aguçar a percepção ou estar “ligado” nas coisas do mundo; é necessário, ainda, trabalho de leitura, pesquisa, busca de informação; algo que envolve reconhecimento, análise, compreensão, sistematização e formalização do que pretendemos fazer crer aos outros.
A Coerência Textual
É comum ouvir-se dizer que há textos bons por serem coerente e outros ruins pela incoerência. A rigor, existem vários níveis e planos de coerência e incoerência. Vejamos alguns casos:

a) Um sujeito resolve contar a última piada de papagaio num velório. Além de impertinente e improcedente, a piada sofre de uma síndrome geral de incoerência contextual. A situação lutuosa não permite que o decoro seja quebrado e risos irrompam em torno do defunto.
b) Um jovem vestibulando conversa com um amigo e diz que sempre adorou animais, tendo inclusive vários cachorros, patos , galinhas e atém mesmo um papagaio. Por isso, tentará a carreira de veterinário. Há, neste caso, coerência narrativa.
c) Havia uma campanha publicitária que anunciava o produto nos seguintes termos: “Zupavitin: a sopa que emagrece um quilo por dia”. A publicidade, afora ser enganosa, aponta para um caso de incoerência argumentativa.
d) Em vestibular da Fuvest, o candidato saiu-se com a seguinte pérola “(...) a palidez do sol tropical refletia nas águas do rio Amazonas”. Convenhamos que o sol tropical pode ser acusado de muita coisa, menos de palidez. É um caso de incoerência no uso da imagem.

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